Três volumes brancos, distintos e silenciosos, repousam sobre uma base de azulejos em movimento. O conjunto evoca a imagem das ilhas Três Irmãs, arquipélago próximo à Ilha de Santa Catarina, e estabelece uma ponte simbólica entre o mar, a história e as raízes de quem habita. Assim nasceram as Casas Três Marias, no Balneário dos Açores, em Florianópolis.
O projeto parte de um gesto afetivo e cultural: homenagear a ancestralidade portuguesa das proprietárias, três irmãs cujos nomes, assim como os das gerações anteriores, carregam o nome Maria. As casas representam não apenas pessoas, mas legados. São independentes, com programas distintos, mas convivem em harmonia, como um pequeno arquipélago onde a arquitetura traduz vínculos familiares e respeito à individualidade.
A forma das casas remete a um arquétipo universal — o da casa com telhado de duas águas — reinterpretado aqui com sutileza contemporânea. Os volumes são organizados de modo a preservar a individualidade de cada unidade, ao mesmo tempo em que compõem um conjunto coerente, integrado à escala do bairro e à natureza ao redor. A base comum, sinuosa, é revestida com azulejos portugueses, conectando as três construções de forma poética e simbólica, como o mar conecta as ilhas.
Essa base abriga as áreas de garagem e infraestrutura, e ainda contribui com a integração urbana, respeitando o perfil do bairro e mantendo afastamentos e alturas compatíveis com o entorno. A solução construtiva também permite elevar as áreas habitáveis, garantindo privacidade, ventilação cruzada e melhor aproveitamento da luz natural.
A arquitetura se apresenta de forma contida, mas carrega complexidade em suas intenções. O desenho dos cheios e vazios, os ritmos dos vãos, os recortes inesperados nas fachadas e os pequenos gestos de sombra e luz compõem uma leitura sutil da paisagem urbana e natural. As casas se abrem para a rua e para o jardim interno, num gesto que acolhe tanto o convívio quanto a contemplação.
Do ponto de vista técnico, o projeto se ancora em princípios de sustentabilidade, conforto e durabilidade. A escolha dos materiais prioriza o desempenho térmico, a resistência ao tempo e a valorização de técnicas construtivas locais e referências históricas — como a azulejaria portuguesa e os muros de pedra, reinterpretados com linguagem contemporânea.
Mais do que abrigo, as Casas Três Marias são um gesto de permanência, memória e afeto. Elas narram, através da arquitetura, a história de uma família e de um território. E como as ilhas que as inspiraram, permanecem próximas, mas livres, unidas por aquilo que é invisível: o pertencimento.